Marcha 2010


"Palheiros na Costa"

I                                                          VI
Em tempos que já lá vão,                        Só restou a capelinha,
Gente de outro lugar,                             De madeira ao pé do mar,
Deixam de lavrar o chão,                        Onde as gentes à tardinha,
Para vir lavrar o mar.                             Vão à Senhora rezar.


II                                                         VII
E chamam Costa do Mar,                         Num mar de prata lavrado,
À costa que descobriram,                         Bailam barcos de outra vida,
Partem para o mar a pescar,                     São herdeiros do povoado,
Em barcos que construiram.                     Que hoje é Praia de Mira.


III                                                       VIII
Entre o mar e as doces águas,                   Nas tardes Quentes de Verão,   
Assentaram arraais,                                 O Toino filho do mar, 
Fizeram casas de tábuas,                         Tira o mar o coração,
Para os meses estivais.                             Com a sopeira a namorar.


IV                                            IX
Desbravando o mar e a areia,                   E à tardinha ao sol pôr,
Sobre a duna construíram,                       Batendo o vira na areia,
Uma pitoresca aldeia,                              A varina e o pescador,
Chamada Palheiros de Mira.                   Cantam a história da aldeia.


V                                              X
Foi-se na bruma do tempo,                      Foi costa Palheiros de Mira,
Esse lindo povoado,                                Esse belo povoado,
O seu casario cinzento,                             Hoje é Praia de Mira,
Já faz parte do passado.                          Terra e Mar desse passado.


Refrão
Praia de Mira,                             Praia de Mira,
És uma praia tão bonita,               Deixa o peixe e a maresia,
Deixa o vestido de chita,               Sê princesa por um dia,
Veste a seda e vem dançar.             S. João será teu par.

Memória descritiva:

A Praia de Mira era no século XIX um areal imenso e um deserto humano. Atraídos pela pesca, elementos da população, vindos de vários lugares, acabaram por adaptar-se e mais tarde fixar-se. Repartiam a sua actividade entre a faina do mar e o cultivo da terra.

O seu primeiro nome foi Costa do Mar, mas com o decorrer do tempo ficou conhecida como Palheiros de Mira. Esta designação deve-se às casas de estorno e mais tarde de madeira que foram sendo construídas sobre as dunas. Tanto as suas casas como os seus barcos foram obra de lavradores que um dia resolveram ir à pesca da sardinha.
Hoje já nada, ou quase nada, resta dessa aldeia, apenas a capelinha sobrevive.
Com esta marcha o grupo Terra e Mar pretende recriar e relembrar esse tempo. É através do figurino, da letra e da coreografia que a marcha pretende avivar a memória dos mais velhos e ensinar os mais novos (é isso que se pretende com a roupa das aguadeiras).
O traje da madrinha representa a praia vestida de princesa. As mulheres lembram com as suas saias às riscas os palheiros de ripas. O branco das suas blusas e folhos lembram a espuma do mar que em dias de ventania beijava docemente a fina e branca areia da praia. O azul das camisas dos homens faz lembrar o azul do céu e o mar companheiros de uma vida de amargura e solidão.
E diríamos como Raul Brandão: "A vida aqui não é uma mentira."


Representante: Associação de pesca desportiva da Praia de Mira
Letra: Isaura Cuco
Música: Alcino Clemente
Coreografia: João Sequeiro e Dulce Janeiro
Figurinista: Helena Leal
Costureira: Helena Leal
Padrinhos: Helena Leal e Alcino Clemente
Pares marchantes: 24
Total de participantes: 60
Porta Bandeira: Margarida Mingatos
Arcos: 9
Artesão: Vera Gabriel
Músicos: 9
Coro: Odília Milheirão, Graça Saborano e Alcino Clemente
Aguadeiras: